A difícil questão da(s) identidade(s) Olho a vossa fotografia e penso:
- Quem são estes jovens? Talvez eu pudesse dizer mil coisas, generalidades, como se existisse um conceito comum para definir os jovens e por isso vos definisse também a vós. Ora, na verdade não existe, como bem explica Lévinas (um filósofo francês muito importante, mas não se assustem não vou falar de filosofia). E cada um de vós saberia dizer quem é? Desconfio que a resposta não seria fácil, porque se deparariam inevitavelmente com a difícil questão das pertenças:
- Eu sou quem?
- Pertenço a quem?
- Sou de onde?
- Quais os aspectos fundamentais da minha vida que partilho com outras pessoas?
- Que pessoas?
- O que partilho com todos os seres humanos?
- O que partilho com os europeus?
- O que partilho com as pessoas do meu país, da minha cidade, do meu bairro, da minha escola, etc?
- Quais os aspectos fundamentais da minha vida, invisíveis para os outros mas decisivos para mim?
- São só meus ou são também daqueles que vivem comigo, vão à mesma igreja, lutam pelas mesmas causas, etc?
Este enumerar de questões mostra bem a complexidade da noção de identidade. Na realidade, vivemos em contextos determinados, nada daquilo que encontrámos e vivemos é estranho ao ser humano que cada um de nós é e será no futuro. Somos, em nós mesmos, um ser múltiplo, condição da nossa existência individual que havemos de transportar pela vida. Esta identidade pessoal, umas vezes, encontra-se em grande harmonia e, outras vezes, em confronto de ideias, opiniões e valores – daí os processos de desintegração, de desenraizamento, de desfiliação, etc. – que se vão manifestando em diferentes momentos e situações. Recordo um jovem de origem cabo-verdiana que, há algum tempo, me dizia:
-“Chamam-me luso-africano, mas isso é o quê? Significa o quê? Já não sou o que os meus pais e os meus avós foram e são, mas também não sei o que sou. Afinal, sou quem? Pertenço a onde?”Não são só jovens de origem africana que têm dificuldades de identidade, se questionam e se sentem, por vezes, marginalizados; são todos aqueles que, tendo raízes em culturas minoritárias se sentem desconfortáveis na sua própria pele, tanto em casa, como na escola ou no meio onde vivem. E assim se iniciam processos de desadaptação e de reacção contra o que encontram e não lhes dá as respostas que precisam, de modo a sentirem-se incluídos e valorizados. Estes sentimentos de não pertença à cultura maioritária fazem com que radicalizem aspectos da sua cultura de origem, dessa África longínqua, e para eles, muitas vezes, mítica, aonde a grande maioria nunca foi, ainda que uma parte deles próprios sempre tenha estado lá.Como se vive com estes aparentes paradoxos: estar e não pertencer, pertencer e não estar? É muito difícil. Na procura das suas próprias referências, não admira que se agrupem por afinidades culturais, musicais ou outras e construam espaços de pertença, onde possam expressar valores culturais que também são seus. Espero ter contribuído para a discussão sobre o tema que vos ocupa, mas posso não ter razão: questionem o que eu digo, discordem, levantem outras questões, reformulem os meus argumentos, etc. Tentar compreender, é isto.
Rosa Afonso
(D.G. I. D. C.)
14/3/07 17:44
14/3/07 17:44
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