LIBERDADE
“Liberdade é poder dizer “sim” ou “não”, faço-o ou não faço, digam o que disserem os meus chefes ou os demais; isto convém-me e eu quero-o, aquilo não me convém e, portanto, não o quero. Liberdade é decidir (…). Da primeira vez em que pensas no motivo da tua acção, a resposta à pergunta “porque faço isto?” é (…): “faço-o porque mo mandam fazer, porque é costume fazê-lo, porque me apetece”. Mas se pensares uma segunda vez, a coisa já muda de figura. (…). Não estarei eu a ser escravizado por quem manda em mim? (…) E se me mandarem fazer coisas que não me parecem convenientes, quando ordenaram ao comandante nazi que eliminasse os judeus do campo de concentração? Não poderá ser uma coisa “má” – quer dizer, não me convir – por muito que ma mandem fazer, ou “boa” e conveniente mesmo que ninguém me mande que a faça?
O mesmo se passa com os costumes. Se não pensar mais do que uma vez no que faço, talvez me chegue a resposta de que ajo assim “por ser costume”. Mas porque diabo tenho de fazer sempre o que é costume fazer-se. (…) Como se fosse escravo dos que me rodeiam, por muito meus amigos que sejam, ou daquilo que fiz ontem, ou anteontem, e o meu passado! Se viver rodeado de gente que tem o costume de discriminar os negros e isso de maneira nenhuma me parecer bem, porque hei-de ter de imitar essa gente? Se contraí o costume de pedir dinheiro emprestado e de nunca o devolver, mas cada vez me dá mais vergonha fazê-lo, porque não poderei mudar de atitude e começar a partir de hoje mesmo a ser mais certo com as minhas contas? (…)”
SAVATER 1993). Ética para um Jovem. Lisboa: editorial Presença, p.44-45
“Liberdade é poder dizer “sim” ou “não”, faço-o ou não faço, digam o que disserem os meus chefes ou os demais; isto convém-me e eu quero-o, aquilo não me convém e, portanto, não o quero. Liberdade é decidir (…). Da primeira vez em que pensas no motivo da tua acção, a resposta à pergunta “porque faço isto?” é (…): “faço-o porque mo mandam fazer, porque é costume fazê-lo, porque me apetece”. Mas se pensares uma segunda vez, a coisa já muda de figura. (…). Não estarei eu a ser escravizado por quem manda em mim? (…) E se me mandarem fazer coisas que não me parecem convenientes, quando ordenaram ao comandante nazi que eliminasse os judeus do campo de concentração? Não poderá ser uma coisa “má” – quer dizer, não me convir – por muito que ma mandem fazer, ou “boa” e conveniente mesmo que ninguém me mande que a faça?
O mesmo se passa com os costumes. Se não pensar mais do que uma vez no que faço, talvez me chegue a resposta de que ajo assim “por ser costume”. Mas porque diabo tenho de fazer sempre o que é costume fazer-se. (…) Como se fosse escravo dos que me rodeiam, por muito meus amigos que sejam, ou daquilo que fiz ontem, ou anteontem, e o meu passado! Se viver rodeado de gente que tem o costume de discriminar os negros e isso de maneira nenhuma me parecer bem, porque hei-de ter de imitar essa gente? Se contraí o costume de pedir dinheiro emprestado e de nunca o devolver, mas cada vez me dá mais vergonha fazê-lo, porque não poderei mudar de atitude e começar a partir de hoje mesmo a ser mais certo com as minhas contas? (…)”
SAVATER 1993). Ética para um Jovem. Lisboa: editorial Presença, p.44-45
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